22 Jan 2010

O Estranho Caso McCann



por Aníbal Ferreira


Imagine você que era polícia há 30 anos e que investigava o desaparecimento de uma menina inglesa de nome Maddie McCann.

Imagine que todos os polícias, incluindo você, concluíam que a menina morrera e que os pais eram suspeitos de envolvimento na ocultação do cadáver.

Imagine que os pais da menina eram oficialmente declarados suspeitos e que a imprensa inglesa começava a chamar-lhe “bófia cretino”, “amador”, “corrupto”, “incapaz”, “incompetente” e “falhado”.

Imagine que a imprensa inglesa começava a propalar diariamente que você “montou o caso”, “inventou cenas”, “ignorou documentos cruciais”, “dificultou a investigação”, foi “tendencioso”, “cruel” e “mentiroso”.

Imagine que durante meses a fio a imprensa inglesa lhe chamava “saco de batatas”, “bêbado”, “torturador”, “estúpido”, “imbecil” e “infame”, repetindo 418 vezes que você era um “homem vergonhoso” e que a mãe dos seus filhos era uma “prostituta”.

Imagine que a direcção política da polícia não o defendia e que, pelo contrário, lhe retirava a investigação do caso, permitindo que a imprensa inglesa titulasse “Despedido!” e renovasse, com mais violência ainda, todos os ataques já desferidos.

Imagine que o Ministério Público declarava que o processo ficaria a aguardar a produção de melhor prova e que essa declaração era entendida em Inglaterra como uma “absolvição” dos pais da menina, dando origem a mais ataques da imprensa ao “bófia cretino”, “amador” e “corrupto” que “montou o caso”, “inventou cenas” e “ignorou documentos cruciais”.

Imaginou tudo isto? Pois bem, então responda: SE PUDESSE ESCREVER UM LIVRO EM DEFESA DO SEU BOM NOME, ESCREVIA-O?

Agora imagine que o livro era retirado do mercado por atentar contra o bom nome dos pais da menina...



The Strange McCann Case



by Aníbal Ferreira

Imagine you had been a police officer for 30 years and that you were investigating the disappearance of a little English girl named Maddie McCann.

Imagine that all the police officers, including you, concluded that the little girl had died and that the parents were suspects of being involved in concealing the body.

Imagine that the little girl’s parents were made official suspects and that the English press started to call you “bungling cop”, “amateur”, “corrupted”, “inept”, “incompetent” and “failure”.

Imagine that the English press started to announce on a daily basis that you had “manufactured the case”, “made stuff up”, “”ditched vital evidence”, “hampered the investigation”, that you were “biased”, “cruel” and “lying”.

Imagine that for month after month, the English press called you “fat”, “drunk”, “torturer”, “stupid”, “imbecile” and “infamous”, repeating 418 times that you were a “disgraced” man and that the mother of your children was a “prostitute”.

Imagine that the police’s political directory did not defend you and that, quite to the contrary, it took the case investigation away from you, allowing for the English press to print the headline “Sacked!” and to renew all previous attacks with increased violence.

Imagine that the Public Ministry declared that the process would wait for the production of better evidence and that said statement was understood in England as an “acquittal” of the little girl’s parents, prompting even more attacks from the press against the “bungling cop”, “amateur” and “corrupt”, who “manufactured the case”, “made stuff up” and “ditched vital evidence”.

Have you imagined all of this? Well, then answer this question: IF YOU COULD WRITE A BOOK TO DEFEND YOUR REPUTATION, WOULD YOU WRITE IT?

Now imagine that the book was taken off the market because it damaged the little girl’s parents’ reputation…


6 Jan 2010

Unidos Por Uma Causa Justa


Relatório de um Livro Censurado

Não me surpreenderia saber que o livro mais lido em 2009 tivesse sido o “Caim” de Saramago, “4 e 1 Quarto” da Rita Ferro, ou ainda de Dan Brown “O Símbolo Perdido”.

Agradar-me-ia que um qualquer ranking dos actuais best-sellers referisse “A Mordaça Inglesa” de Gonçalo Amaral, pois tal significaria que milhares de pessoas, cientes de que em Portugal se corre seriamente o risco de assistirmos à perda da Liberdade de Expressão, estariam suficientemente sensibilizadas para percorrerem as livrarias, em busca de uma obra essencial para se perceber como de mansinho, pela calada de um processo sinuoso, nas ruas tortuosas e sinistras de um caso judicial pejado de truques processuais, se pode fazer jurisprudência e colocar em risco uma das mais honrosas conquistas revolucionárias de Abril, como a Liberdade de Expressão.

Um qualquer precedente é algo tenebroso, perigosíssimo - inaceitável.

Como no tempo da censura fascista, tal Providência Cautelar implica a perda do direito que cada um tem de se expressar livremente, impedindo o livre debate de ideias. Tudo o que se escreve, ou fala terá afinal de se enquadrar no figurino oficial do Poder, observando a conveniência do que as entidades superiores considerarem correcto!

Um cidadão passou para livro uma tese baseada numa investigação policial, desenvolvida e devidamente fundamentada e sem sequer ter sido ouvido, é alvo de um processo inquisitório que lhe retira o livro do mercado, vê serem-lhe suprimidos os direitos autorais, e assiste silenciado à força, manietado, à vil profanação dos seus bens, das suas contas bancárias e da sua dignidade.

Tais manobras persecutórias configuram só por si, motivo suficiente para inequívoca condenação pública dos causadores de tal destemperança, da falta de zelo e isenção da magistrada responsável pela criticável e absurda Providência Cautelar.

Porém a crise é mais aguda, mais profunda e mais grave, uma vez que coloca a nu todo um sistema judicial que compromete a liberdade e a dignidade de todo um povo, permitindo que uma medida claramente inconstitucional manche impunemente a consciência colectiva de gente que sonhou que os cravos de Abril não mais murchariam.

É por isso que, verdadeiramente unidos por uma causa justa, importa que um grande número de cidadãos compareça de novo nos dias 12, 13 e 14 nos acessos circundantes do Palácio da Justiça em Lisboa, para expressar com veemência a revolta e a disposição em prosseguir a luta pela Liberdade de Expressão, assinalando que em Portugal não mais se tolera a repressão das ideias e dos ideais democráticos.

Com cravos, cartazes, mordaças, ou simplesmente com um sorriso, de cabeça erguida, e o olhar posto no futuro, estaremos presentes conferindo confiança e todo o apoio a Gonçalo Amaral, em mais esta etapa do seu percurso para restabelecer a verdade e os valores a nós devolvidos naquela saudosa madrugada de 1974. Coragem Gonçalo Amaral!

Gonçalo Amigo, estamos Contigo!

Luis Arriaga



Local: Palácio da Justiça, Lisboa, Rua Marques da Fronteira

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