Sousa Tavares transformou o seu programa num território de equívocos. Quando se esmaga quem não tem poder não se está a fazer justiça. Está a transformar-se um espaço opinativo numa caça às bruxas sem sentido.
Num dos melhores momentos de humor da série ‘Os Simpsons’, Bart e Lisa discutem acaloradamente e Homer tenta separá-los. Um deles diz: “Pai, estávamos a discutir para ver qual gostava mais de ti”. Homer fica desvanecido e diz: “Que bonito”. Aí Bart esclarece: “Ela diz que sou eu e eu digo que é ela”. Em Portugal, neste momento, não deve existir muita discussão sobre quem gosta mais de ‘Sinais de Fogo’ de Miguel Sousa Tavares. Porque poucos devem enaltecer as virtualidades do programa, que alegadamente foi buscar inspiração à elegância estilística de Jorge de Sena. Algo que o locutor não cumpre, com o seu estilo estridente típico da artilharia de costa. Esse é o primeiro dos equívocos do programa.
Miguel Sousa Tavares pode querer fazer de Zorro, o Justiceiro, mas aí tem sucedido o segundo equívoco: foi mal preparado para a entrevista com o primeiro-ministro e, depois, descarregou a fúria dos deuses num ex-inspector da PJ, que não podia falar por imperativos legais e porque o locutor não o deixava. O terceiro equívoco sucede depois: deve haver programas justiceiros (da FOX à televisão brasileira existem aos quilos), mas eles costumam ser contra os poderosos e não contra os que não têm poder. Miguel Sousa Tavares pensa que o justicialismo deve ser ao contrário. Talvez por isso tenha visto que a cadeira onde estava Sócrates era mais favorável para o entrevistador e tenha mudado de lugar.
É um conceito válido, mas a partir de agora quem tiver a mínima noção de que vai ser achincalhado como Gonçalo Amaral não irá ao programa. Donde só sobrarão entrevistados que possam ser louvados pelo locutor. Daí decorre o quarto equívoco: para que é que a SIC precisa de um programa justiceiro se lá só irão os que desejam ser apaparicados? Talvez Judite de Sousa não estivesse à espera de um confronto tão fácil à segunda-feira. Se apostar em histórias de emoção no seu ‘Vidas Contadas’, acantonará ‘Sinais de Fogo’ num ‘western’ onde o justiceiro tem balas de pólvora seca. A partir de agora ver-se-á para que lado cai o coração dos espectadores.
in Correio da Manhã - 12.03.2010
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